quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Manhã

Acordo para mais uma manhã comum. Estranhamente, não foi graças ao despertar da TV, ou à agitação de pessoas em casa. Simplesmente acordo. Em meu quarto, meu irmão já não se encontra mais dormindo ao lado. Tudo bem, provavelmente já fora trabalhar. Olho o relógio, são 8:15 da manhã. Pelo menos não vou me atrasar para o serviço. Levanto-me para tomar café, e nova surpresa: meus pais também não estão em casa. O pai ter sumido tudo bem, ele sempre está fazendo alguma coisa, mas a mãe... isso é estranho. Teria ela ido até a padaria? Bom, melhor não esperar, penso eu. Vai que ela foi comprar verduras! Se eu não tomar o café logo vou me atrasar mesmo. Faço o café e vou me arrumando, escovo os dentes e tudo mais. E nada de alguém aparecer. Isso já estava me encucando, esse silêncio todo não é normal. Faz até mal para a gente, principalmente quem já está acostumado. Ligo o rádio para quebrar o silêncio, e nada. Só chiado. Desisto e vou pegar minhas coisas para ir ao trabalho. Na dúvida, resolvo ver o quarto da minha irmã. Ela com certeza ainda estaria ali, dormindo. Mas não. Que estranho! Incrível minha mãe ter tirado ela da cama tão cedo para alguma coisa. Melhor desencanar de querer encontrar alguém. O difícil é esse silêncio chato, só quebrado em partes pelo chiado do rádio. Com ele desligado, e faltando alguns minutos para meu horário de saída, resolvo então ligar a TV. Pelo menos ali vou ouvir alguém falando. E outra vez não havia nada! Só chiado em todos os canais. Já começo a achar que houve um blecaute durante a noite, uma vez que não tem nada funcionando. Tenho uma última idéia brilhante: usar o telefone. Como não queria importunar ninguém tão cedo, resolvo ligar para o 130 para ouvir a hora certa, uma decisão ridícula penso eu, mas que mesmo assim tiraria de mim essa incerteza. O telefone toca, toca e toca, mas ninguém atende. Nem o computador que informa a hora automaticamente. E isso é estranho, porque uma vez que o serviço telefônico continua operante, o computador também deveria estar. Já começo a achar que esse é um dia daquelas coincidências que importunam a gente, e arrisco um pensamento de que se voltasse para a cama e dormisse de novo, provavelmente amanhã teria um dia começando bem melhor. Mas logo deixo isso de lado, já que o trabalho me chama. Ao menos lá, na repartição pública, vai ter gente o bastante para eu ver e ouvir. Quando abro a porta para o quintal me dou conta de outra coisa: meus cachorros sumiram! Os dois de uma vez. Provavelmente isso explica a ausência do pessoal, eles devem ter fugido pelo portão e foram atrás deles. Já vou me dirigindo ao carro quando novamente me surpreendo ao perceber que não ouço o canto habitual do nosso canário, algo que já faz parte da minha manhã. Ao me dirigir para a gaiola vejo que ele também não está lá. Agora eu começo a ficar preocupado. Já se torna coincidência demais que todos os seres vivos que poderiam estar ali em casa tenham simplesmente sumido. Olho para os céus e não vejo pássaro algum. Por sinal, até o céu está esquisito, pálido e sem vida como num entardecer sem sol, prefigurando uma chuva que deve cair brevemente. Vou até o portão e não tem ninguém na rua. No chão, não vejo sequer uma formiga, um bichinho que seja. Tem algo realmente errado. Na minha mente, já começo a pensar que tudo isso é um sonho, ou melhor, um pesadelo. E dos grandes, daqueles que acordamos sobressaltados. Começo a sentir meu coração batendo mais forte, de nervoso com a situação. Fico parado pensando no que fazer, o que poderia ter causado isso tudo. Uma bomba? Uma experiência? Minha mente passa rapidamente por todas as explicações possíveis, até parar em uma que me atinge como uma flecha: morto. Eu estou morto, penso eu. Não, não pode ser. Eu ainda estou na mesma casa, na mesma cidade, no mesmo planeta. Não senti sair do meu corpo, transpor um túnel ou ir em direção a uma luz, como normalmente algumas pessoas descrevem essa experiência. Continuo me sentido vivo, se me toco ou belisco continuo sentindo a mim mesmo. Talvez os outros tenham morrido, eu não. Mas como pode ter sumido todo mundo, mesmo aves e insetos? No quintal, na casa, nas ruas, só ouço o silêncio. Nem o vento assopra com força suficiente para sussurar coisa alguma. Resolvo tomar o carro e ir até a casa da minha namorada procurar por ela. Pelas ruas minhas dúvidas continuam: não tem ninguém em lugar algum. Tudo parece estar paralisado, morto. Ai, outra vez essa palavra na minha cabeça. Não, deve haver outra explicação. Chego na casa dela e vou entrando, e não encontro ninguém. Na cama dela, uma surpresa: debaixo do cobertor, vejo nossa aliança. Então eu caio na real, sinto em meu coração que não dividimos mais o mesmo mundo. Provavelmente ela está em outro lugar, junto com todo mundo, e eu estou sozinho. Sentado aos pés da cama dela, pensando em tudo isso, começo a chorar. Choro por muito tempo, um choro que parece durar quase a eternidade. Quando paro, resolvo ir até a igreja. Ao tomar essa decisão, sinto no coração que era exatamente isso que deveria ter feito desde o começo. Vou até a capela e vejo que as portas estão abertas. Ao entrar, olho na cruz procurando pela imagem de Cristo, talvez a única maneira de sentir a presença de alguma outra pessoa neste mundo além de mim. Sempre acreditei que Ele nunca nos deixa sozinho, e é com este pensamento que já entro procurando por ele no madeiro. A decepção é grande, pois ele também não estava ali. Neste momento eu senti, enfim, que esta era uma mensagem de Deus. Caio de joelhos, e antes de começar novamente a chorar, imagens da minha vida passam como um turbilhão diante de meus olhos. Cada falha que cometi parecia explodir e me atingir como uma bala de canhão, acabando de vez com o pouco que me restava de equilíbrio emocional. Acabo por cair ao chão, completamente entregue ao sofrimento que me esmagava, comprimia de todas as maneiras. Não tenho forças nem para chorar mais. A dor é tão grande que parece me roubar até a vontade de reagir de alguma forma. Depois de algum tempo, um longo tempo onde eu queria me entregar para sempre e não conseguia, enfim levanto. Volto a olhar a cruz, inconformado com a ausência de Jesus. Não podia aceitar que ele mesmo poderia ter me abandonado. Não assim, sem explicações. Eu sequer podia sentir a Sua presença, algo bastante comum quando estou dentro da igreja. Na minha última tentativa de entender o que se passava, resolvo ir até o sacrário e, sem nenhuma paciência, quebro a portinha que guarda as hóstias consagradas. As peças de bronze estavam ali, mas sequer uma só hóstia consegui encontrar. Sento-me, inconformado. Olho para frente, aquela igreja imensa vazia, o perfeito retrato do mundo lá fora. Eu, o único ser vivente em todo o universo. Mesmo que não pudesse ter certeza disso, eu sentia sem sombra de dúvidas. O silêncio em meus ouvidos irritava, a ponto de eu falar comigo mesmo para abrandar um pouco a ausência de qualquer outro interlocutor. Novamente perdido em pensamentos infinitos, me debruço sobre o ombro da cadeira e me entrego. Perco a noção de tempo: anos , séculos, tudo parece passar, acabar e voltar de novo, tudo em segundos. Ao abrir novamente os olhos, uso minhas poucas forças que restavam para me endireitar na cadeira. Ainda curvado, reflito sobre o que posso fazer: continuar ali parado, esperando talvez acordar disso tudo, ou levantar e continuar procurando para sempre alguém para me dar respostas. De repente percebo que a palidez do ambiente, causada pela pouca claridade lá de fora, começa a sumir. Um suspiro de claridade faz com que eu me endireite e olhe para frente, procurando ver se o céu lá fora melhorou. Quase pulei para trás ao ver no último banco da igreja, bem escondido, um homem. Um homem comum, como todos aquele pelos quais cruzamos todos os dias, que me olhava com atenção e em silêncio. Vagarosamente me aproximo dele, que continua me olhando sem esboçar qualquer reação, a não ser mover seus olhos conforme vou andando. Enquanto me aproximo só penso em perguntá-lo quem é e o que faz ali, mas me sinto impedido. Eu mesmo não quero fazer essa pergunta, talvez porque ache que já sei a resposta. Por sinal, sinto que não posso lhe perguntar nada, uma vez que não havia praticamente nada que ele me dissesse que pudesse revelar algo mais do que eu já sabia sobre o que estava acontecendo. Resolvo então simplesmente sentar ao seu lado e falar com ele. Isso já era precioso o bastante para mim, mais do que qualquer esclarecimento que ele pudesse me dar. - Gosto muito desta igreja. - Eu também. Faz a gente se sentir como se estivesse em casa. - Faz muito tempo que o senhor a freqüenta? - Toda a minha vida. Eu praticamente nasci dentro dela. - E seus pais, também freqüentam aqui? - Não, eles preferem variar. Meus pais gostam de todas, pra falar a verdade. Não tem uma preferência, pois acham que todas elas possuem coisas boas e ruins. - A tal da “Igreja santa e pecadora”, não é? - Isso mesmo. Nessa hora ele sorriu para mim. E seu sorriso de imediato limpou meu coração da mágoa e do medo que tinha se alojado nele. - Mas alguns homens são mais pecadores do que santos. E não é nada fácil de mudar um coração humano hoje em dia. - Não, mas sempre vale a pena. Salvar a ovelha perdida, nem que seja uma entre noventa e nove delas. - De fato, concordo com o senhor. Mas também está mais difícil encontrar boas pessoas que sejam capazes... - ... de tentar reconduzir as ovelhas de volta ao cercado. Sim, eu sei. É uma batalha incessante. Já faz muito tempo que Deus tem chamado pessoas para esse trabalho, mas sempre existe muita dificuldade. As pessoas antes externavam o que sentiam, os antigos hebreus podiam ouvir de seus profetas como Deus falava com eles. Hoje sequer ouvem a Sua voz, quanto mais dar atenção a ela. - Talvez seja a marca da evolução humana. Criam aparelhos e invenções para darem atenção, e se esquecem de quem deu a eles a sabedoria para o fazerem. - É muito bom ouvir isso de você, Paulo. – disse ele, agora olhando fixamente para mim – Mostra que você aprendeu bem o que fora dito aqui. - Sim, aprendi meu senhor. Mas não vivi. Escondi-me atrás de realizações e planos que tinham pouca importância, se comparados ao projeto do senhor para mim. Fui um tolo. - Talvez. Mas eu não vim aqui para falar sobre o que você fez. Vim te dar um recado para você levar para todo o sempre. - Pois não, meu senhor. - Este foi um dia incomum para você, mas é comum para muitos. Muitos dos que vivem no seu mundo, hoje, estão vivendo exatamente assim. Num mundo só para eles. Não vêem as outras pessoas, não as sentem. Se esquecem que dividem sua existência com todo o Universo, e sendo assim devem efetivamente fazer parte dele. Buscar o crescimento do outro, levá-lo a crescer na fé, no amor a Deus, na esperança e também para si mesmo. O mundo é só um lampejo da felicidade da vida eterna, e portanto deve ser vivido como tal. A felicidade que se vive neste mundo é multiplicada no mundo futuro, mas o ódio e o desprezo alimentados neste mundo também se multiplicarão, e se voltarão contra seu autor, depois de sua morte. E esta solidão de um dia poderá se tornar o retrato de toda a eternidade para alguém assim. Lembre-se: se você ajudar um cego a transpor uma avenida movimentada, você o terá tirado do perigo, mas terá feito o mesmo com você também. Isso também vale para a vida espiritual e cotidiana. - Obrigado meu senhor. Posso lhe fazer uma última pergunta? - Tudo bem. Mas você sabe que eu já sei o que me perguntará. Penso um pouco e acho inusitado fazer uma pergunta para alguém que já a conhece, mas resolvo fazê-la assim mesmo pelo bem da lógica: - Onde eu estou afinal? Num sonho ou na realidade? Eu morri ou os outros morreram? - Ninguém morreu, e você não está sonhando. Nem imaginou isso tudo sozinho. Uma voz em sua mente te conduziu, te inspirou a refletir sobre este cenário e tomar uma lição do mesmo. Todos se sentem assim algum dia, como se estivessem sozinhos no mundo. Uns tiram disso uma lição, outros procuram subterfúgios para evitar uma reflexão como essa. A essa voz que você ouviu alguns chamam de consciência, outros de a voz de Deus. A fé de cada um é que dá a melhor resposta. Independente disso, creia em uma verdade absoluta: ser solidário, amável, misericordioso com os outros sempre abriu portas e formou laços em todos os tempos, raças e culturas. E também conduziu muitos ao céu. Como Deus também é senhor dos que não crêem nele, Ele espera que em nome de uma vida eterna maravilhosa, inimaginável, cheia de gozo e alegria, que é algo maior até que as diferenças entre as religiões e crenças, a raça humana possa mudar, deixar de lado a intolerância, o ódio e a violência. Se todos viverem para sempre isolados em seus próprios mundos, será Ele, o próprio Deus, que se sentirá sozinho na imensidão do paraíso.

Inspirado por Deus.

domingo, 6 de dezembro de 2009



Ontem assisti ao “2012”, o novo filme do especialista em catástrofes Roland Emmerich. Baseado nas previsões maias de que nosso planeta (ou nossa civilização, por assim dizer) vai terminar no fim daquele ano (21/12/12), o filme derrama espetaculares cenas de catástrofe, seguindo o estilo Emmerich de serem praticamente perfeitas.
Logicamente o espectador quer entender como o mundo pode mudar tanto em tão pouco tempo. No entanto, achei que a explicação dada pelo filme foi de uma cientificidade bem capenga, que somos obrigados a engolir em nome do prosseguimento do filme. Eu, particularmente, imaginava que os tais neutrinos, se pudessem ser tão prejudiciais à água no interior do planeta, poderiam causar ainda mais estragos na superfície. Não me perguntem como, pois sou leigo no assunto, mas talvez o derretimento das calotas polares, maior incidência de doenças de pele, interferência nas comunicações de satélites, mudanças nas massas de ar continentais e no movimento das marés, sei lá.
Também achei demérito do filme a enorme quantidade de clichês dos filmes do gênero – por sinal, a maioria vinda dos próprios filmes dele, em especial do “Independence Day”. A família separada que se junta novamente por conta das catástrofes, as sub-histórias que querem emocionar mas sem a menor profundidade dramática, as mortes estilo “lição de moral” para alguns personagens, os prédios que caem quase em câmera lenta, só para criar cenas de ação emocionantes, e a enorme repetição das fugas “em cima da hora” em carros, aviões, etc. Chega a ser enjoativo, tanto quanto as inúmeras cenas de pousos e decolagens de naves nos últimos filmes da saga “Star Wars”. A cena onde John Cusack é considerado morto é uma repetição descarada do final de “ID4”, quando todo mundo fica observando monitores e torcendo para que ele (ou naquele caso, Will Smith e Jeff Goldblum) reapareça vivo.



Ainda, tem inúmeras coisas que não fazem o menor sentido. Por que Jackson e os filhos saltaram sem a menor cerimônia a cerca do governo? Só para colocar uma pulga atrás da orelha do pai sobre o que estava acontecendo ali? Por que a arca não pode ligar as turbinas com a comporta aberta? Só para criar uma sub-história essencial para a conclusão do filme? É, Independence Day também tinha isso. Como as turbinas ligadas no reverso poderiam ter a força necessária para impedir, em alguns segundos, que um monstro de metal como era aquela arca não se espatifasse contra o Everest? Será que os neutrinos revogaram também a lei da inércia? Por que o russo (Karpov) desceu da plataforma antes da porta abaixar? E o músico, que morreu sem conseguir dizer um olá para o filho? E a morte da namorada do russo, Tamara? Não vejo dramaticidade nenhuma nisso. As cenas de mortes de milhares, milhões de pessoas, acontecem aos montes e não vemos piedade, sentimento nenhum nelas. As pessoas morrem queimadas, ou caindo em buracos, com a mesma naturalidade que carros voam e prédios caem. Que eu saiba, pessoas não são meros elementos constituintes de uma cena de ação. Deveria haver esperança para os que ficaram de fora, e não apenas o fim. Restou, claro, a fé. Mas para os que não crêem, isso é muito pouco.
Também achei que faltou uma melhor explicação da própria profecia maia. Deveriam ter mostrado estudiosos, ou nativos que guardam a história propagada entre as gerações, montando um cenário místico e de fé, onde esse cataclisma pudesse significar algo mais, em termos globais, do que apenas o fim, e ponto. Acredito que para a cultura maia o fim do mundo em 2012 signifique mais do que apenas a morte, mas uma renovação, ou um divisor de águas, no sentido de que, se os povos vão todos perecer, isso signifique uma tomada de atitude para que a morte seja apenas o caminho para algo maior, após ela. O filme não tem mesmo um caráter edificador, nesse sentido. A fé, manifestada nas orações ao redor do mundo, fica meio mascarada. Afinal, sabemos que o rezar, por si só, pode não significar nada para os que não buscam viver aquilo que pregam ou rezam. Então, implorar clemência pode não significar a salvação. Mas a união dos povos, num momento desses, talvez significasse muito mais.



Finalmente, a lição de moral do filme. Adrian chama a atenção para o fato de que muitas pessoas ficaram de fora, e convence os líderes mundiais a abrirem as portas como um ato de dignidade, para dizer o mínimo. O que todo mundo esquece é que os que estavam à beira das arcas já são os escolhidos, que já sabiam da existência das arcas e que tinha se preparado para ocupá-las. Ou seja, não são o “povão”, que em sua maioria morreu sem sequer ser avisado do que aconteceu (o pronunciamento do presidente nem ao menos explica direito o mal que os atingiu). Vemos ali um “Titanic”, uma escolha seletiva dos “melhores” em escala mundial, onde os únicos afortunados foram, pelo visto, a família do Jackson Curtis (Cusack) e alguns poucos trabalhadores chineses. O resto, já era elite ou considerado importante. Pura baboseira, convenhamos. Talvez amenizasse isso, valorizando um pouco mais as minorias, se mostrassem a comemoração dos africanos, que não tiveram seu continente inundado, em ficarem vivos e por significarem um novo começo, em seu continente. Mas não...
Bem, eu já sabia que não encontraria um primor de filme no 2012. Mas também não esperava ver “mais do mesmo”, inclusive a repetição das idéias do próprio diretor, em outros filmes. Acho que isso prova que os filmes-catástrofe estão mesmo com os dias contados, tanto pela escassez de idéias, quanto porque, depois de destruir o mundo inteiro, como dá para ir mais longe? Destruiremos o sistema solar, a constelação, a galáxia? Isso nem os maias foram capazes de inventar, mas não dá para duvidar da criatividade (entenda-se lucratividade) de Hollywood.

domingo, 22 de novembro de 2009

Up - Altas Aventuras



Acabei de assistiri ao filme “Up – Altas Aventuras”, uma das últimas jóias produzidas pela Pixar, que nos premiou com tantos filmes de qualidade e de conteúdo, até agora. Assisti recentemente ao “Monstros vs. Alienígenas”, da Dreamworks, outra que costuma exibir ótimos filmes em animação, mas fiquei muito, muito decepcionado com o filme. Ele até é de uma excelente qualidade técnica, mas achei a história extremamente superficial, não tendo sido muito bem explorada, apesar da ótima idéia. Já em “Up”, o que acontece é exatamente o contrário. Ninguém apostaria que com uma sinopse dessas (idoso resolve fazer uma aventura para o coração da América do Sul em nome da memória da falecida esposa) o filme teria tanta profundidade, tanta qualidade.
Uma coisa que me impressionou foram os minutos iniciais do filme. Enquanto o encontro das crianças parece muito com tantos encontros que vemos em tantos filmes infantis, assistir a evolução da vida deles e ver como eles abriram mão do sonho de procurar pelas “Cataratas do Paraíso” em nome da vida cotidiana é ao mesmo tempo uma constatação da realidade e uma análise comovente, de como substituímos alguns sonhos em nossa vida, mas em nome de outros, que podem não estar em nossos planos iniciais, mas muitas vezes se revelam ainda mais prazerosos. O envelhecimento feliz do casal mostra como eles fizeram a escolha certa. Mas numa vida comum, sempre sonhamos fazer algo novo, diferente, único. E é aí que surge a iniciativa do Sr. Fredricksen.
É claro que não faz sentido. Não faz sentido Russel viajar com ele, nem eles aparecerem de repente na América do Sul, os cachorros falantes, etc. Mas é um filme, e nos filmes, devemos aceitar tudo, em nome da diversão. Vemos como Fredricksen tem essa obsessão por deixar a casa no topo da cachoeira, o que leva o velhinho a procurar virar as costas para todo o resto, e aquela eterna “lição de moral” dos filmes voltados para crianças mostra como ele aprende a dar maior valor àquilo que realmente importa, que é o companheirismo, a ajuda a quem precisa (Kevin). Por sinal, a casa tem um papel de extremo destaque no filme, sendo que podemos até considerá-la um personagem do mesmo. Vejam que o filme tem muito pouco confronto, ou armas, ou soluções mirabolantes para os problemas que enfrentam. Quase tudo no filme, as soluções para os problemas que eles passam, passa pela casa. Foi uma saída muito criativa dos realizadores do filme.
Outra coisa que me impressionou também foi como o filme é comovente, como ele nos envolve em desejar de coração que os sonhos e vontades do velhinho se tornem realidade. A cena onde ele descobre as aventuras que a esposa considerou ter vivido com ele é muito emocionante, bem como os créditos finais onde vemos a conseqüência das aventuras deles, e de como a amizade entre Fredricksen e Russell continuou depois. O artifício das fotos, da iconização das pessoas e dos sentimentos através de fotos, bibelôs, poltronas, da própria casa, é maravilhoso. Isso vai longe da idéia de valorizar aquilo que é material, pois essa forma de linguagem do filme sintetiza muita coisa em poucas imagens ou palavras, a ponto do filme quase abdicar da linguagem falada em seus primeiros minutos. Eu sempre achei genial a habilidade dos cineastas que conseguem mostrar, mais do que falar, aquilo que querem passar. É a essência da sétima arte, que a diferencia do rádio, da música, dos livros, jornais e revistas. E o filme, sem exagero, é uma obra-prima dessa habilidade.
Uma outra coisa que percebi ao assistir ao filme foi que o próprio filme, em seu transcorrer, não valoriza tanto o objetivo inicial da aventura do velho, ainda que indiretamente ele tenha atingido o seu intento. A partir de um determinado momento, o que era principal passou a ser secundário, não apenas para o velhinho, mas para o filme, como um todo. Ainda que isso seja lógico, dentro da idéia de que Fredricksen passou a dar valor ao que realmente importava, vemos que novamente de maneira sutil, mas clara, o filme valoriza os meios, mais do que os fins. Afinal, se o objetivo final fosse a casa na cachoeira, todos os laços e acontecimentos resultantes do processo estariam em segundo plano. No fim, achei que a casa caprichosamente se colocar no lugar que se esperava foi apenas para contentar aqueles que diriam que o sonho do velho não se realizou, caso isso não acontecesse. Na verdade, a exemplo do que ocorreu na vida dele e da esposa, foi almejando um sonho que ele conseguiu realizar outros tantos, muito mais edificantes e recompensadores.


Adorei o Dug, o cachorro com cara de bobo mas extremamente valoroso e fiel. Para um fã de cachorros, Dug é tudo aquilo que eu gostaria de ter. O velhinho, ainda que meio rabugento é extremamente simpático e em momento algum deixamos de nos envolver com o seu objetivo (claro que os minutos iniciais praticamente capturam o espectador na busca dele, de forma que entendemos tudo aquilo que ele faz em nome disso). Russell nos faz pensar que ele seria de grande ajuda num ambiente hostil como a floresta, mas claro que sendo uma criança, ele não tem mesmo como ser uma criança-prodigio, como tantos filmes nos fazem acreditar. Sua maior virtude é mesmo sua lealdade, coragem e o espírito do escoteiro. Achei também bastante comovente a questão do pai dele, que pelo visto é um pai ausente e talvez, separado, desse mais importância a alguma outra família ou a seus compromissos, do que a seu filho. Merecidamente, o filme mostra como a aventura de Russell e Fredricksen cria laços entre ambos que compensam a falta que ambos sentem. Novamente, algo tocante e extremamente realista, o que impressiona num filme onde grande parte do público deve ser criança. Nos faz pensar: será que tudo o que realmente queremos, podemos ter? Será que não seria a hora de fazermos com que as pessoas aprendam a valorizar o que têm, ou ainda buscar caminhos para sua realização pessoal e sentimental, sem ficarmos presos a sentimentos que, ainda que sejam fortes, podem minar a nossa felicidade se focarmos apenas neles? O pequeno escoteiro pode ser feliz mesmo sem o pai, e Fredricksen pode ter alegria na vida, ainda que tenha perdido o que mais importava a ele até então. Longe de querer virar as costas a sentimentos tão profundos, como o casamento e a relação entre pais e filhos, "saber fazer do limão uma limonada" é algo que deveria fazer parte de todo mundo.
Bom, acho que já escrevi demais, e como sempre, divaguei bastante em um filme que deveria apenas divertir. Mas como eu tenho mesmo o costume de fazer esse tipo de análise, fiquei muito feliz com o que vi em "Up". Quem dera pudessem haver mais filmes assim, que nos elevam e divertem ao mesmo tempo.

sábado, 27 de junho de 2009


Michael Jackson morreu. Dois dias depois do acontecido, ainda não me caiu a ficha. Impressionante como podemos nos espantar com nós mesmos: eu quase tinha esquecido que o cara foi um dos maiores ídolos que tive. Nunca quis ser o MJ, como muita gente acredita acontecer com os fãs de um cantor/ator/etc., mas admirava sua habilidade como cantor, compositor, dançarino, show-man, o engajamento... o cara sempre teve inúmeras qualidades que o fizeram único, desde o início de sua precoce carreira, ainda antes de eu nascer, até seus últimos trabalhos. Atualmente, e essa é a imagem que fica para a geração jovem de hoje em dia, ele andava cada vez mais apagado, e os últimos comentários da mídia sobre ele só faziam jogar a imagem e a credibilidade dele cada vez mais para baixo. Fez lembrar o fim da princesa Diana, quando a mídia só falava de seus namorados/amantes, deixando de lado aquela imagem dela que todos aprenderam a gostar. Michael sofreu do mesmo mal, a infinita exposição na mídia, que o depreciou e sugou tudo que podia de sua imagem. Muito do que ele se tornou, no fim, foi culpa dele mesmo, provavelmente de uma falta de equilíbrio emocional, de segurança em si mesmo, em seus amigos, nas pessoas que ele amou, seja família, amigos ou alguém especial. Acho que jamais entenderemos os motivos de suas plásticas e tratamentos que mudaram tanto a sua imagem. Difícil saber o que ele buscava com isso, pois sua imagem, de um negro esbelto e bonito, mudou drasticamente, chegando a lembrar uma mulher, em alguns momentos, ou um rosto de criança, até a derradeira imagem distorcida e grotesca que ele se tornou. Ainda era ele, mas apenas uma sombra tênue do que foi.



Mas o que fica realmente é o seu legado musical. Os números de vendas de seus álbuns estão longe de ser a sua maior façanha. Eu mesmo sempre o admirei pela qualidade de suas performances, sua voz inigualável e sempre altamente afinada, suas danças que, ainda numa época em que imperava nas pessoas o preconceito idiota contra os "diferentes", nunca passou a imagem de serem afeminadas ou exageradas - se passassem, certamente não seriam perdoadas pelos críticos. A música e a dança fluíam de seu corpo, e o sucesso foi o resultado natural disso. E ainda que seu destino tenha sido tão triste, podemos ver que o tempo pôde testá-lo bastante, por 45 anos de carreira, sem que conseguisse tirar dele a imagem de gênio naquilo que fez. Seus clipes, cheios de efeitos especiais - e que eram usados para bem ilustrar seus trabalhos, nunca para se sobreporem à qualidade de suas músicas -, seus shows grandiosos e fantásticos, tudo sempre foi máximo em sua vida. Por isso mesmo, ele se colocou acima de todos, como o maior artista de todos os tempos (ao menos, para os fãs como eu).
Infelizmente foi necessária a sua morte para que aquele véu que cobriu a sua imagem, criado por todas as acusações que sofreu, pudesse cair por terra para a maioria das pessoas. Sabidamente, ele será bem lembrado daqui para a frente. Ainda ouvimos algumas vozes, isoladas, que se dão ao direito de julgá-lo pelas acusações que sofreu, mas não cabe a nós, hoje, querer entender isso. Os acordos financeiros que ele fez para se livrar dos processos podem muito bem ter saído da idéia dele, de que talvez o término consensual pudesse favorecê-lo mais entre as pessoas, do que a exposição prolongada que o processo faria. Ainda pode ter sido uma fuga do processo, sabendo que iria perder, mas isso jamais ficará claro. Numa das poucas manifestações de sensatez que vi da Luciana Gimenez (bleargh), ela disse que pai nenhum poderia vender a justiça num caso assim, contra um filho seu, por alguns milhões de dólares. E sou levado a crer nisso também, ainda mais hoje, sendo pai de uma criança. Portanto, a menos que se prove o contrário (o que acho difícil que aconteça com o tempo), não podemos considerá-lo culpado por isso. Só Deus pode, se ele assim o merecer.
Que Deus abençoe o Michael, principalmente por tudo o que ele fez humanitariamente e pelas pessoas. A comoção de todos, especialmente dos que conviviam com ele, como outros artistas, mostram bem o que ele era para as pessoas. Que ao contrário do que se disse sobre a vida dele, ele não viva mais sozinho, mas junto de Deus e da companhia daqueles que o admiram, e também vivo na lembrança de todos nós, cujas vidas foram tocadas, em maior ou menor grau, por ele. Michael, "you are not alone" (você não está sozinho). (Tristeza)

domingo, 1 de março de 2009

Antes de Partir (The Bucket List)



Assisti hoje ao filme Antes de Partir (The Bucket List), com Jack Nicholson e Morgan Freeman. O filme para mim foi ótimo. Acho que os dois atores funcionam muito bem juntos, não só um com o outro, mas nos papéis que representam. Nicholson é Edward Cole, um bilionário homem de negócios, que entre outras habilidades, faz a reestruturação de hospitais falidos ou que precisam de dinheiro. Seu personagem é daqueles tipos que adoram viver a vida, aproveitar a tudo que se pode ter, sem regras. Já Freeman é Carter Chambers, um mecânico de automóveis de fala mansa (característica inconfundível do ator) e exemplo de homem e de pai de família. Ambos, que numa obra do destino acabam numa mesma sala de hospital, acabam dividindo também o mesmo destino, ao serem diagnosticados com câncer terminal, restando-lhes cerca de um ano de vida cada. Acabam resolvendo fazer uma jornada derradeira para viver alguns momentos especiais durante a vida que lhes resta.
Filmes com idéias parecidas existem aos montes, inclusive com aquela narrativa já batida de que nesse processo o(s) envolvido(s) acaba(m) aprendendo lições de vida que os mudam completamente. É claro que o objetivo é esse, mas a maneira como a história se desenvolve, e sua conclusão, são muito interessantes e comoventes. A questão da lista, é claro, vira a tônica do filme. Idéias mundanas, como pular de pára-quedas e caçar um leão, dividem a lista com coisas mais espirituais e sentimentais, como presenciar algo sublime, ou fazer o bem a um completo estranho. A forma como os “desejos” da lista se mesclam com os acontecimentos do filme é algo magistral, e só por isso, já compensa conhecer o filme. Mas tem muito mais: cenários maravilhosos, conversas profundas e algumas boas lições para a vida. É mais um filme que entra na categoria “filmes para se assistir quando queremos aprender a nos fazermos melhores como pessoas”. Nem há muito o que dizer em palavras, vale a pena conferir. Sou suspeito por adorar os papéis do Morgan Freeman em filmes dramáticos, mas garanto que vale a pena.

domingo, 9 de novembro de 2008

Jumper


Hoje assisti ao “Jumper”, filme com o Hayden Christensen, sobre pessoas capazes de se teletransportar para diferentes lugares. O filme começa com a descoberta do poder, bem ao estilo “história de super-herói”, e vai evoluindo, tornando-se frenético em sua maior parte. Gostei do filme e da forma como ele abusa dessa habilidade do protagonista, mostrando-o em diferentes lugares ao redor do globo. A história também merece um certo destaque, mas poderiam ter usado o poder dele para torná-lo um altruísta, que ainda que sutilmente fizesse coisas pelos outros, que o poder dele poderia proporcionar. Ele se mostra um egoísta e aproveitador, sem objetivos, senão o de aproveitar ao máximo essa vantagem que tem.

No entanto, faltaram algumas coisas. O filme tenta jogar uma história de que a luta entre os jumpers e os paladinos existe desde a Idade Média, Roland fala que os jumpers se tornam maus depois de um tempo... mas nada disso encontra base no filme, não são apresentados elementos que nos façam entender os motivos de Roland e de sua equipe. Além do mais, qualquer vilão que se preza é movido por algum interesse, que geralmente é de ganância, poder, ou algo assim. Se não podemos nem entender os motivos dele, pois não fomos apresentados a eles, e não podemos vê-lo como “mocinho”, já que ele mata as pessoas próximas aos jumpers, então ele não se configura como um personagem crível. Também acabamos sem entender o que causa essa habilidade nas pessoas, eles poderia ter tentado explicar. Também não custaria nada mostrar o que aconteceu aos cinco anos de David, que fez a mãe saber que ele era um jumper, e que a levou a sair de casa. E por fim, ao não conhecermos o alcance do poder entre as pessoas, acabamos por questionar se os jumpers, unidos em uma espécie de organização, não seriam mais fortes.

Além disso, a participação da Millie é ridícula, chega a ser pior do que aquelas crianças que sempre estão paradas no meio do caminho quando está passando um carro em alta velocidade ou caindo uma viga ou algo assim. Ela incomoda porque o David quer levá-la a Roma, incomoda porque ele tem que mantê-la em segurança, incomoda porque nas horas mais impróprias quer explicações dele. E por fim, também não se configura como uma pessoa de bem, porque mesmo sabendo que David usa sua habilidade para roubar bancos, não tem uma cobrança moral por conta disso. É a típica “mulher de malandro”. Sem falar que a interpretação da atriz é fraquinha também...

Bom, o filme valeu a pena, mas é para se assistir sem querer fazer uma análise minuciosa dele, o que para mim é um pouco difícil.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Arquivo-X 2 - Finalmente!



Todos os que me conhecem bem, sabem que eu amo Arquivo-X. Posso dizer que cresci, na crença e no gosto por coisas que não se podem explicar (e daí o meu interesse por fenômenos e outras coisas correlatas), por causa da minha fé religiosa no seriado, precursor de tantos seriados modernos com temáticas, pode-se dizer, “diferentes”. Infelizmente Arquivo-X acabou precocemente, deixando um vazio imenso na história, nos destinos dos personagens e na vontade que todos tinham de que Mulder vencesse no final, descobrisse tudo o que queria e expusesse ao mundo a verdade sobre a tal invasão (temas do seriado). Bem, o final não nos deu isso, mas esse vazio ficou: o que aconteceu depois?

Bom, depois de muito tempo, chega o filme para nos dar um pequeno alento. Nele, vemos o pós-seriado, o que aconteceu depois, pelo menos em partes. Scully continuou sua carreira como médica, se esforçando para trabalhar para salvar vidas e dar esperanças, e Mulder... bem, Mulder continou do mesmo jeito, até pior do que estava quando o deixamos no final da nona temporada, sem trabalho e correndo risco de ser morto. O trabalho dava a ele um rumo, e o filme mostra ele sem rumo algum, sem nada além da obsessão cega que sempre o guiou, traduzida pelo interesse nas notícias estranhas e pela pesquisa dos fenômenos. Bem, pelo menos, além da obsessão, ele ainda tem a Scully.

Mulder é convidado pelo FBI para ajudar na busca por uma agente desaparecida, especificamente para utilizar o seu know-how em assuntos inexplicáveis para investigar a colaboração de um padre pedófilo, que passou a ser vidente, de uma hora para outra. E esse é o ponto de partida da aventura desse filme.

Já antes de analisar o todo, já vou “destilar o meu veneno” em algumas partes: o filme deixa bem claro que Arquivo-X estava para Mulder assim como Mulder estava para o FBI. Tirar dele os recursos que ele tinha quando lá estava tirou boa parte da graça do filme (do ponto de vista da investigação), uma vez que ele só pode usar os recursos da agência por tabela, não podendo tomar a iniciativa, e nem usar de sua perspicácia para “juntar os pedaços” da investigação por si só. Fica o tempo todo dependendo das muletas encontradas pelo filme, para novamente ligar os ex-agentes ao FBI. Com isso, XZibit e a Amanda Peet ficam claramente em segundo plano, o primeiro muito mais ainda, sendo tão-somente um enchedor de saco o filme inteiro. Ah, Mulder e Scully sem armas também fica bem sem-graça, Scully tem até de usar um pedaço de lenha para atacar um cara... deprimente, hehehe. Tem outra: sobre Mulder estar “desaparecido” aos olhos do FBI... eles são um bureau de investigação, não? Não saberiam facilmente que Mulder continua junto com a Scully, já que a Scully foi tão fácil de achar? Acho que queria que Mulder tivesse se isolado do mundo todo, mas para fazer a ponte com a Scully, tinham que mantê-lo com ela.

Mas voltemos ao filme. Felizmente, todos os aspectos do seriado que tanto me cativaram estão lá: a investigação, a eterna dualidade do acreditar de Mulder com o querer acreditar de Scully, as intermináveis conversas entre eles, cada um defendendo o seu lado, a Scully sempre firme e ao mesmo tempo sentimental, o Mulder sempre obstinado e “moleque”, querendo dar as caras e enfrentar o perigo. Até o Skinner apareceu, foi uma grata surpresa, não fosse o fato dele ter sido quase um figurante no filme, com pouca utilidade (a não ser dar um pouco de calor humano a Mulder, hahaha!).

O caso traz Mulder de volta ao que sabe fazer melhor, e logicamente ele “se encontra” novamente fazendo isso, querendo obstinadamente prosseguir até o final, até salvar a garota. Já Scully continua a mesma “careta” de sempre, fugindo do confronto com o inexplicável e duvidando sempre do aspecto inexplicável das coisas. Ela sempre foi pé-no-chão, e isso não iria mudar agora: toda a corrente da investigação que estava utilizando das informações fornecidas pelo padre-vidente era desacreditada por ela, e essa idéia se arrasta bem até o final, deixando, como sempre, a dúvida sobre as visões serem de todo verdade, ou não. Felizmente, apesar das correntes divergentes, eles se entendem onde interessa: Mulder e Scully continuam juntos, como companheiros, até onde tudo indica apaixonados um pelo outro. Até a questão do filho dado para adoção, o Willian, é tocada suavemente no filme, quando ambos conversam sobre a dedicação de Scully a um menino com uma doença rara, com o qual Scully se identifica. Em nome da vida do menino, Scully exercita novamente aquilo que gostamos tanto de ver no seriado, que é a coragem dela em enfrentar seus superiores, ou todos os prognósticos negativos, movida tanto pela sua intuição, quanto pela fé. Ainda que Scully não pareça lá muito religiosa no filme, pois apesar de ainda usar o famoso pingente de crucifixo, chega a duvidar de Deus em um momento do filme. No entanto, como também era de praxe acontecer no seriado, alguns eventos especiais, geralmente aqueles que acostumamos a associar com algum tipo de “mensagem divina”, a norteiam nos momentos de dúvida durante o desenrolar do filme.

Bem, nem preciso dizer que o inexplicável, novamente, se mostra e se esconde no final, com a morte do padre-pedófilo-vidente. O caso do seqüestro das mulheres, em si, não tem nada de paranormal – o que até se justifica, pois não iriam deslocar um contingente tão grande de agentes para investigar casos do tipo daqueles que Mulder trabalhava. Mas pessoalmente senti que faltou um pouco o elemento alienígena no filme, algo que estávamos bastante acostumados. Me arrisco a dizer que o filme não foi exatamente feito para apresentar o tal caso do seqüestro das mulheres, mas usar o caso como uma desculpa barata para colocar Mulder e Scully novamente em confronto com uma investigação com aspectos especiais, e, é claro, confrontá-los com o público, novamente. Eu, particularmente, adorei. Foi emocionante, de fato, revê-los e imaginar o que viria depois, como a história continuaria, no que aquele “mundo” criado pelo seriado havia se tornado, depois de todo esse tempo. Aquele mundo, na verdade, não volta mais – muita gente já passou e morreu no seriado, de forma que não dá para voltar a ser tudo como antes. Mas é muito bom saber que a vida continua, no mundo de Arquivo-X.

P.S.: Ah, apenas para completar o post sobre o cinema, no fim eu não me rendi a eles, ainda que não tenha podido ir a Campinas ou Piracicaba para assistir ao filme. E considerando que levou um mês para eles começarem a passar, fico feliz de ter tido outras opções para assistí-lo! :D

quarta-feira, 9 de julho de 2008



Dando continuidade aos meus comentários de filmes, assisti ontem o recente Seed - Assassino em Série. O filme tem uma premissa curiosa, onde segundo as leis da Califórnia do fim dos anos 70, um preso que sobrevivesse a três tentativas de eletrocução na cadeira elétrica tem direito à liberdade. E ao mesmo tempo, conta a história de Seed, um assassino serial que teria sido o pior da história dos Estados Unidos (na descrição do filme, é dito que a história é aparentemente verdadeira, mas não dá maiores detalhes). Bem, é ele mesmo quem acaba sofrendo duas eletrocuções, e sobrevivendo. Mas isso não se dá por uma resistência sobre-humana dele, ou algum outro motivo extraordinário típico de Hollywood. Simplemente a cadeira era ruim demais. Na tentativa de garantir que o serial killer morresse, por pressão do pessoal da penitenciária (caso contrário, após a terceira ele seria considerado um homem livre), ele é declarado morto, mesmo ainda estando vivo, e enterrado naquele mesmo estado. Aí começam as incongruências: se eles queriam que Seed morresse, bastaria terem sufocado ele, ou dado um tiro nele, antes de enterrá-lo. Sabendo o perigo que ele representava, chega a ser ingênuo terem dispensado ele daquele jeito. É claro, Seed se recompõe, se livra da situação (enterrado vivo) e volta a matar indiscriminadamente, e a esmo, mas também buscando vingança. Outra coisa que não faz sentido é que, ao assistirmos o filme, ficamos esperando encontrar algum significado na matança que ele realiza, ou pelo menos o porquê dele, no início do filme, assistir a vídeos de crueldade contra animais, e deixar suas vítimas morrer abandonadas, sem comida ou água, e gravar tudo isso, inclusive a decomposição dos corpos, em fitas. Achei que iriam explicar até o final do filme, talvez querendo dizer que Seed se vinga da humanidade pelos maus-tratos contra os animais, ou ainda - fazendo um paralelo com um dos vídeos iniciais, que mostra a metamorfose de um inseto - que ele mataria para fazer uma "metamorfose" nas pessoas, mas nada. O filme ainda tenta passar uma idéia de que a fisionomia dele, que quando garoto foi o único sobrevivente de um incêndio no ônibus escolar em que estava, seria algo medonho. Faria sentido mostrar o rosto dele no final do filme, mas isso também não é feito. E ele sequer fala uma só palavra no filme inteiro, mas fica subentendido que ele fala. Ou seja, o filme é uma infeliz sucessão de situações que poderiam ser melhor exploradas, até para dar mais coesão ao filme, e conseqüentemente, um final melhor, mas isso não acontece. Acaba da mesma forma que se desenvolve, sem um clímax de verdade, sem solução. Apenas um monte de mortes, sangue e vermes. Decepcionante.

segunda-feira, 30 de junho de 2008



Assisti no domingo a versão atual do filme "O Enigma de Andrômeda" (The Andromeda Strain, 1971), que passou como mini-série recentemente nos EUA. A história seria a seguinte: um satélite americano cai num lugar no Texas, e levado a uma pequena cidade, libera um agente biológico letal que mata toda a população, exceto um senhor e um bebê. Uma equipe especial é convocada para tentar encontrar uma forma de impedir o agente de se espalhar, usando tecnologia de ponta, enquanto novas facetas do tal organismo vão se revelando aos poucos, ao mesmo tempo em que se descobre que existem muitas informações relevantes para a pesquisa que estão sendo negadas pelos militares.
O filme é um exercício de aprendizado, onde vamos aos poucos conhecendo mais detalhes sobre o suposto agente biológico e suas propriedades. Para variar, em filmes desse tipo, as conclusões são rápidas e as linhas de raciocínio também, o que exigem do telespectador bastante atenção para conseguir acompanhar tudo. Ao longo do filme, aprendemos que o tal agente biológico se propaga com rapidez, que parece ter até mesmo inteligência própria (tendo em vista que, em alguns casos, suas vítimas não morrem de imediato, mas são mantidas vivas de forma a aumentar a área de cobertura do vírus), que parece ter vindo de uma espécie de buraco negro, possivelmente do futuro, e que não tem características orgânicas conhecidas, sendo, portanto, provavelmente alienígena.
O filme faz o estilo "Arquivo X" de ser, pois existe muito mistério, informações negadas espalhadas por todas as divisões de poder dentro do governo americano, assassinatos sem o menor pudor em nome da preservação das informações sigilosas e aquela sensação de que, para se entender o todo, é preciso olhar bem as partes. O que nos leva a algumas conclusões que o filme não explora, sendo que a principal delas, parece ser a seguinte: quando é descoberto que as cápsulas que trouxeram o agente biológico possuem informações codificadas em linguagem binária, os pesquisadores chegam no nome das bactérias capazes de eliminá-lo, e também a um número, que no fim vemos que está sendo usado como catalogador de uma lista de outros prováveis agentes, armazenada na Estação Espacial Internacional. Pois bem, se isso pode ter vindo do futuro, do NOSSO futuro, acho que não seria errado imaginar que talvez o governo tenha um tipo de acordo com o povo do futuro, onde o resultado de pesquisas muito além da nossa época estão sendo usados para criar um estoque de armas biológicas, certamente para garantir aos EUA vantagem em futuras guerras.
Uma coisa que achei meio fora da realidade foi a idéia do repórter e até mesmo do chefe da equipe em usar a chantagem de apresentar informações confidenciais à mídia para conseguir um pouco mais de colaboração do governo. Tudo bem que para negociar com gente como eles, é necessário "descer ao nível deles", mas acho pouco provável que pessoas com extremo poder se deixariam influenciar tão facilmente. Mostrar o lado familiar de alguns deles, ou mesmo o envolvimento romântico de dois dos pesquisadores, serviu apenas para "encher lingüiça", tendo em vista que o tempo da mini-série parece até pouco, em vista de tudo que é desenvolvido.
Bom, o filme faz bastante o meu gênero de interesse, apesar do fato de que estou um pouco enferrujado nesses temas, desde o fim de "Arquivo X". Mas é muito bom mesmo, vale a pena. Infelizmente não conheço o original, e nem o livro, mas gostaria de saber se o antigo complementa alguns pontos da história deste, ou se o novo é um tipo de "livre adaptação" do antigo. Ainda assim, gostei bastante.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Tempo nublado na Arco-Íris Cinemas

Apenas uma nota, para os amigos e até para mim, quando eu cismar que quero ir no cinema daqui outra vez: o mega-sucesso Indiana Jones 4 já saiu de cartaz de Rio Claro, menos de 1 mês depois do lançamento! O mesmo vale para o Nárnia: Príncipe Caspian. E quem quiser ir ao cinema essa semana, ver um bom filme, vai assistir a... Didi? Hulk dublado (eca)? A futilidade do "Sex and the City"? Bom, ainda tem o "Agente 86", mas os outros eu não conheço.
Ainda para piorar descobri, em consulta ao site deles, que ir ao cinema em Rio Claro é mais caro que ir na rede deles na maioria das outras cidades. O preço nos finais de semana está R$ 14,00 (quantos filmes será que eu alugo com esse dinheiro?). Só Limeira/SP, Chapecó/SC, São José/SC e Fortaleza/CE tem o mesmo preço. Cidades até maiores que a nossa tem preços melhores, pode? Veja os exemplos, retirados do próprio site deles: Presidente Prudente - R$ 8,00; Assis, Joinville, Barretos, Cachoeirinha, Criciúma, Itajaí, Joinville, Lajeado, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre - R$ 10,00; Fortaleza, Balneário Camboriú, Bento Gonçalves, Cascavel, Florianópolis, Itapema, Santa Cruz do Sul - R$ 12,00; até Brasília é mais barato - R$ 13,00.
Uma vez que fui ver o Homem Aranha, já quase um mês depois do filme lançado, ficou uma baderna de meninas atrás de mim e da minha esposa (na época, namorada), que ficaram jogando pipoca e mexendo no cabelo da gente, do nada, sem motivo algum. Desanimei bastante depois disso, principalmente por perceber o quanto falta de respeito a essa gente. Quem pagou e quer ver o filme merece ser bem tratado, nem o lanterninha resolveu coisa alguma aquele dia. Ainda gosto de cinema, mas infelizmente o programa está se tornando cada vez mais raro na minha vida. Vamos ver no Arquivo X 2, se me animo de novo...

Meu Monstro de Estimação (The Water Horse)



Seguindo meu objetivo de deixar minhas impressões sobre os filmes que assisto, vou escrever um pouco sobre esse filme, "Meu Monstro de Estimação". Na Inglaterra do período da Segunda Guerra, um garoto chamado Angus encontra às margens do Lago Ness (famoso em todo o mundo pela história do Monstro do Lago Ness) um ovo de "Water Horse" (Cavalo d'Água), uma criatura lendária que teria poderes mágicos, e cria-se aí uma grande amizade entre os dois.
Bem, não preciso nem falar que o filme é feito provavelmente para crianças. A caracterização do monstro, em especial em sua fase como bebê-monstro, tem aquele ar de bichinho amoroso e cheio de expressões que lembram um animal de estimação. Por sinal, foram muito bem-feitos os gráficos (computadorizados) do filme. Mas ficam em segundo plano, em vista das belas imagens de paisagens que são mostradas, na volta do lago. Como muitos filmes, há muito tempo, entra o componente da guerra: o pai de Angus foi à guerra, e a mãe esconde dele que o pai já falecera em combate, deixando o menino alimentar essa esperança do pai retornar. O garoto vive atormentado e triste, tanto pelo pai quanto pelo fascínio e ao mesmo tempo medo que tem das águas do lago. E o monstro, que ele carinhosamente chama de Crusoé, vem preencher essa lacuna.
Crusoé cresce rapidamente, conforme se alimenta, de forma que em poucos dias vemos a evolução dele. As aventuras da parceria Angus/Crusoé se limitam a escondê-lo da mãe, fugir do cachorro e escapar da investida dos militares contra o monstro. Nada realmente perturbador, na verdade. Quem não deve ter gostado muito do filme foi o exército, retratado, pelo menos em relação à companhia que se instalou na casa dos MacMorrow, como inexperientes e assustados. A aparição rápida do monstro soa a eles como um ataque dos alemães, fazendo com que descarreguem seu arsenal no monstro, sem sequer conseguir machucá-lo. Além disso, em uma cena em particular, onde o capitão quer mostrar à família deles o poderio do exército, fica evidente a falta de sentido em se fazer algo daquele tipo. Eles parecem estar brincando de guerra, apesar de que provavelmente esse tipo de "exercício militar" deve ser mesmo realizado em alguns países. Perda de tempo, e que não acrescenta quase nada ao filme.
Não fica claro se a criatura é mágica, e a cena de deixa isso mais ou menos em dúvida também não oferece muitas pistas para que se deduza algo. Aparentemente, o monstro tem um "desvio de personalidade" depois de ser atacado, por acidente, na demonstração do poder de fogo do exército. Imaginei que talvez eles pudessem tentar desenvolver uma linha de raciocínio diferente, como por exemplo alegando que o ser poderia ser bom ou mal, dependendo de como era tratado, mas ficou mais como algo do tipo: "sou bonzinho porque sou bem tratado, ao mexerem comigo, perdi a confiança nos humanos, com exceção do meu amigo Angus".
Ah, a cena dele saltando para quebrar a rede me fez lembrar do "Free Willy". :) Por sinal, que rede fraquinha! O exército tinha planos de pegar submarinos e/ou navios daquele jeito? Só pode ser brincadeira...
Para finalizar, esse é outro filme para crianças onde a temática da morte é bastante desenvolvida. Foi-se o tempo dos filmes-pipoca infantis onde ninguém se machucava, ou morria. A começar pelo primeiro "Crônicas de Nárnia", onde uma das crianças quase morre, sem falar no leão, passando por filmes como "Labirinto do Fauno", ou o mega-triste "Ponte para Terabithia", cada vez mais o cinema retrata a morte como tema infantil (?). Chego a duvidar que a intenção seja boa, afinal de contas, casos como o de "Terabithia" acabam praticamente estragando o filme. Em "Water Horse" isso não acontece, ninguém do filme morre, mas convenhamos que é triste ver o menino enganado sobre o destino do pai, e alimentando falsamente a esperança de que ele um dia volte. Mostra uma negligência muito grande da mãe, tanto ao não tentar informá-lo sobre o destino de seu pai, quanto em ajudar o menino a ser um pouco menos triste. É um bom filme, pelo menos para o público a que se destina. Para fim, foi razoável.

domingo, 1 de junho de 2008

Pushing Daisies - Uma feliz descoberta


Recebi a indicação de meu amigo Escher sobre esse novo seriado (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pushing_Daisies), aliás com ótimas opiniões a respeito dele. Nessa última semana pude conferir todos os 9 episódios da primeira temporada, e posso garantir que o seriado é uma jóia pura, e me empolgou em muito pouco tempo, como muito poucos já conseguiram (Arquivo X e Prison Break, por exemplo, mas por motivos diferentes).
Pushing Daisies conta a história de Ned (na foto, sentado ao lado de seu cachorro Digby), que tem uma peculiaridade: ele traz os mortos de volta à vida, tocando neles. No entanto, essa volta só pode durar um minuto, ou então alguém que está próximo morre no lugar. E ao reviver a pessoa, Ned não pode tocá-la nunca mais, ou então a pessoa morre outra vez, dessa vez para sempre. Ele é o proprietário do "Pie Hole", um estabelecimento onde ele faz tortas das mais variadas junto com sua assistente Olive, usando sua peculiaridade para trazer de volta à vida morangos, pêssegos e outros ingredientes, que usa para fazer as tortas. Um dia, Emerson Cod, investigador particular, descobre ocasionalmente o dom de Ned, e propõe um acordo: em troca de uma participação financeira, usa o dom de Ned para interrogar vítimas de homicídio, a fim de descobrir seus algozes e ficar com o dinheiro das recompensas. E num desses casos, Ned encontra morta Chuck, sua paixão de infância, e ao revivê-la, decide não deixá-la morrer novamente.
A série tem a inspiração de sua fotografia (e acredito até que em alguns de seus temas) em filmes do Tim Burton (criador de jóias como "Edward Mãos de Tesoura") e também do "Fabuloso Destino de Amélie Poulain", apesar de eu não ter assistido a esse último. É possível perceber a relação por vermos como o mundo de Pushing Daisies é repleto de cor, de figuras fortes, quase com um gibi. Também vale a comparação pelos temas nos quais a série está focada. Ela está longe de ser uma série investigativa. Ned e seus amigos têm diversas conversas sobre moralidade, paixões, reflexões psicológicas sobre seus atos... ou seja, é quase uma análise intelectual dos personagens e das situações, sempre com boas mensagens e idéias, sempre querendo passar um "algo mais" que às vezes é até difícil de definir em palavras.
Ned nutre um amor incondicional por Chuck, mas ambos sofrem com o dilema de que nunca poderão se tocar, ou Chuck estará fadada à morte eterna novamente. Olive ama platonicamente seu patrão, mas não se posiciona como uma inimiga mortal de Chuck. Elas cooperam e discutem essa situação normalmente (como pessoas civilizadas fariam), e disputam, cordialmente, o Ned. Emerson é ganancioso e pouco aberto às conversas sobre relacionamentos e moral, que Ned sempre insiste em querer ter com ele, mas mesmo assim amolece às vezes, e sempre tem bons conselhos para dar. As tias de Chuck, com quem ela vivia antes de morrer, são a típica mistura do bom e mau humor, da gentileza e da aspereza. Mas mesmo assim, sofrem muito com a morte de Chuck, e ignoram que a sobrinha continua viva. Nessa mistura de situações, está Ned.
O típico bom-moço vem de uma infância turbulenta, quando descobre seu dom devolvendo a vida a Digby, seu cachorro, e o usa depois em sua mãe. Mas ao fazer isso, mata acidentalmente o pai de Chuck. À noite, no mesmo dia, ao receber um beijo de boa noite de sua mãe, sela o destino dela permanentemente, e é quando descobre que não pode tocar os revividos uma segunda vez. Acaba internado em uma escola de meninos e abandonado pelo pai. Ned é honesto, simpático e gentil - alguém em quem se espelhar - , e vemos na figura dele uma pessoa em conflito, pois ele sofre com a sua situação com Chuck. Mesmo assim, tem momentos de pura mágina no relacionamento entre eles, quando usam de artifícios para se sentirem abraçados, beijados e acariciados. O amor platônico entre os dois, ouso dizer, é mais angustiante que "Romeu e Julieta", por exemplo, já que o obstáculo entre os dois é justamente a característica de um deles. E o relacionamento deles tem muito pouco de "desejo", é muito mais "carinho", e a situação deles permite que esse aspecto seja muito bem explorado, tornando mais apaixonante, por parte do público, acompanhar esse amor.
A série é bastante "limpinha" também, tem muito pouco espaço para inimizades, raiva, vingança. Mesmo quando isso aparece, tem aquele ar de infantilidade, quase de lição de moral que se tira de uma história para crianças, que já observei em "Peixe Grande" (outro filme de Tim Burton). Os inimigos são quase caricatos, como a dona da loja de doces, por exemplo.
Bom, em resumo (se é que isso pode ser chamado de um resumo), eu adorei. Ao ver "Peixe Grande", não muito tempo atrás, fiquei com aquela sensação de quero mais, pois queria que aquele clima de fantasia continuasse, que não parasse com o fim do filme. Até agora, posso dizer que me sinto confortado. Que venham as próximas temporadas!

Uma breve introdução

Saudações a todos os navegantes desse oceano que é a internet!
Estou recomeçando o meu blog, algo que já tentei fazer antes, mas me tomou muito tempo configurando e acabei desistindo. Insisto e retorno, porque acho que muitas coisas podem e devem ser ditas, como um registro de coisas que me interessam, e que podem ser de interesse dos amigos também.
Fiquem à vontade para comentar e dar idéias, com respeito e criatividade, é claro. O que quero é somar, confraternizar com pessoas que nutram pensamentos parecidos, ou que queiram elevar as suas vidas refletindo sobre tudo o que nos rodeia, junto com os outros. Seja bem-vindo!